RIO - O humor na TV ainda nem se recuperou de sua recente renovação - resultado da presença cada vez mais constante de comediantes bem-sucedidos vindos da stand up comedy - e já está ganhando novos ares. No ar há uma semana na Band, o "É tudo improviso" trouxe para frente das câmeras a mesma dinâmica que faz sucesso nos palcos: o público determina um tema e os atores se desdobram para criar esquetes bem humorados na hora.
- É a primeira vez que um formato como esse está sendo exibido em rede nacional. Em outros países o fenômeno do teatro de improviso já está na TV. Aqui, muita gente começou a conhecer o gênero por meio da internet - afirma Márcio Ballas, mestre de cerimônias do programa.
Estrelado pelo grupo Os Barbixas - que já deu as caras no "Quinta categoria", da MTV -, o "É tudo improviso" traz sete atores em cena e conta ainda com integrantes de As Olívias e do Jogando no Quintal. Por enquanto, a atração é exibida durante as férias do "CQC", humorístico que importou Rafinha Bastos, Oscar Filho e Danilo Gentili da stand up, há dois anos. Se passar no teste da audiência, o novo programa, que tem espaço para 200 pessoas na plateia, poderá ganhar um espaço na grade da Band este ano.
- O improviso trabalha com a possibilidade de erro o tempo todo e mostramos a capacidade dos atores de se desdobrar em vários personagens. O público vê essa criação ao vivo - diz Ballas. - Todo mundo está curioso para saber como esse formato, que é sucesso no teatro, vai se adaptar agora à televisão - acrescenta o ator, parte do Jogando no Quintal, que já fez um quadro semelhante na TV Cultura.
O improviso é novidade na TV, mas é também inegável o domínio de nomes descobertos no gênero stand up na programação, em outras estreias da temporada. Caso de "Delírios de verão", que teve seu primeiro programa exibido na última terça-feira pela MTV e trouxe o ainda pouco conhecido Fábio Rabin num lugar de destaque. O apresentador, que já apareceu na Rede TV!, em quadros como "Na madruga" e "Beijo na boca ou tapa na cara", do "Pânico na TV!", tem uma trajetória comum com a de outros artistas que são crias da "comédia em pé". Com quatro anos de experiência como ator de stand up, Rabin conhece a dinâmica de encarar plateias de cara limpa, munido apenas de piadas.
- Na stand up o texto é fundamental. Para contar dez minutos de piada no palco são necessários meses de criação. Tudo tem que ser pensado e testado. Já no espetáculo de improviso as situações são criadas ali, naquele momento - explica Rabin. - O nosso trabalho não é como o do cantor que canta sempre as mesmas músicas. Temos que oferecer piadas novas com frequência. Mas apesar de termos um texto, é claro que o improviso continua sendo a maior arma para qualquer comediante - avalia, arriscando uma comparação entre os dois gêneros.
Rabin deixou o "Pânico" para atuar no "Furfles", da MTV. A atração, que agora está de férias, é estrelada por Marcelo Adnet, que foi revelado no bem-sucedido espetáculo "Z.É. - Zenas Emprovisadas".
- O Adnet fez teste para a MTV no mesmo ano (2008) em que o "CQC" foi lançado. Aliás, todos os meus amigos da stand up tentaram uma vaga no "CQC" - recorda Dani Calabresa, uma das raras mulheres da turma, que hoje faz sucesso na apresentação do "Furo MTV".
Amiga do "CQC" Danilo Gentili, Calabresa já era atriz quando topou integrar o espetáculo "Comédia ao vivo", do grupo Clube da Comédia.
- As mulheres são mais vaidosas e, geralmente, não têm muita permissão para falar palavrão ou fazer cara de louca no palco. Acho que é por isso que vemos poucas fazendo comédia - conta a atriz, que também assina os próprios textos no teatro. - A TV viu que era vantajoso contratar o pessoal da stand up. Eles chamam uma pessoa que também escreve e já chega cheia de ideias.
Para Rabin, a televisão começou a apostar nos novos nomes depois de perceber que eles já vinham arrebanhando público em outras mídias.
- Comecei a conquistar o meu espaço nos bares, com as apresentações de stand-up; e no YouTube. Acho que a televisão notou o sucesso que essa turma faz na internet e foi buscar essas pessoas no teatro - acredita o apresentador.
Integrante do grupo Comédia em Pé, Fábio Porchat atualmente acumula funções na Globo. Ator e criador do quadro "Exagerados" - exibido ano passado no "Fantástico" -, o carioca também é redator do "Zorra total" e está trabalhando em um novo programa para a emissora em parceria com Bruno Mazzeo. Em cartaz no Rio com o seu grupo e o espetáculo solo "Fora do normal", o ator acredita que a invasão dessa turma está longe de se esgotar.
- A linguagem da stand up e até mesmo do teatro de improviso está se estabelecendo e chegando até as massas - diz Porchat. - Essa nova geração do humor tem essa pegada mais ágil e jovem, de fazer praticamente uma piada por segundo - continua.
No ar desde abril de 2008 no "Zorra total" como o office boy Elvisley, Diogo Portugal é outro fenômeno descoberto pela TV: o curitibano também já integrou o Clube da Comédia, grupo de onde saiu parte do elenco do "CQC", e atualmente está em cartaz no teatro com diferentes espetáculos.
- O pessoal tem sacadas rápidas e isso é valorizado na TV - conta Portugal, que reclama um pouco da atual ordem inversa. - Hoje muita gente está usando a stand up para fazer qualquer coisa. Quando a coisa vira moda, acaba vindo uma enxurrada atrás. E nem todo mundo faz bem.
(Fonte: oglobo.globo.com)
Mateus, Ana Clara